O circuit breaker foi introduzido dentro da política normativa da BOVESPA em 1997, como mecanismo para minimizar o risco do mercado à vista, pois os ativos que compõem este mercado, não estão sujeitos a limites de oscilações de preços. Já nos contratos futuros, o Limite de Oscilação Diária de Preço, é uma ferramenta similar ao circuit breaker e impede a emissão de ofertas com preços superiores ou inferiores em relação ao preço de ajuste do dia anterior. Cada tipo de contrato futuro possuí um limite de variação especifico, que por sua vez é calculada pela margem de garantia do contrato. Abaixo veremos alguns exemplos do limite de oscilação de preço nos mercados futuros:

Podemos elencar três diferenças entre o circuit breaker e o limite de oscilação diária de preço:Tabela1: B3 / Regras e parâmetros de negociação / Oscilação Diária de Negociação

QUAL O OBJETIVO DO CIRCUIT BREAKER E OSCILAÇÃO DIÁRIA DE PREÇOS?

Em ambos os casos essas ferramentas são acionadas em momentos onde há excessiva volatilidade que na maioria das vezes ocorrem em momentos atípicos de mercado, geralmente após uma notícia negativa colocando em risco a economia, política ou segurança nacional.

Esses mecanismos têm por objetivo proteger a integridade do processo de formação do preço, minimizando o risco de crédito na Câmara de Compensação e Liquidação da B3. No mercado futuro é possível ter uma ideia melhor da importância dessas ferramentas, pois, devido o alto poder de alavancagem neste tipo de negociação, uma oscilação severa pode gerar um prejuízo muito grande impedindo que a contraparte receba seu direito. Esse tempo é fundamental para que os participantes do mercado possam estudar e analisar os dados e informações que alteraram de forma brusca e repentinamente os preços dos ativos, assim, aqueles que estão participando do mercado de renda variável pode utilizar o tempo de parada para rever sua estratégia, refazer cálculos e buscar informações para uma melhor tomada de decisão, agir e fazer escolhas com o estado alterado de consciência geralmente costuma ser catastrófico.

FASES DO CIRCUIT BREAKER

Veremos no quadro abaixo a relação da desvalorização do Ibovespa com o tempo de parada estipulado pala B3 quando o Circuit Breaker é acionado.

Foleo Dicas: Evite tomar decisões com o estado de consciência alterado! Aproveite o tempo de interrupção para fazer alguns questionamentos como:Tabela3: Fases do Circuit Breaker, relação entre a desvalorização com o tempo de interrupção.

  • Qual foi a estratégia tomada na aquisição deste ativo? Ex: Longo prazo (5 anos), ou, preciso deste dinheiro nos próximos meses?
  • Vale a pena desfazer-me parcialmente dos meus ativos e recomprar com preços mais atrativos?
  • O motivo que gerou o pânico é local? nacional? ou internacional? Neste cenário, conforme meu perfil e minhas condições financeiras atuais, tenho a oportunidade de finalizar a montagem da minha carteira ou aumentar minha posição com preços atrativos?
  • Tenho informações suficientes para fazer uma decisão de alto risco. Vou precisar do meu capital para cobrir gastos nos próximos meses?

PÂNICO OU OPORTUNIDADE?

A pergunta contida neste subtítulo, está atrelado diretamente ao comportamento, atitudes e visão sobre investimento e mercado financeiro de cada investidor. Cada participante do mercado pode ter visões diferentes nos momentos de alta volatilidade, é neste momento em que o dinheiro esperto troca de mão. Por sermos seres sociáveis, tendemos a seguir o comportamento das massas, ou seja, quando todo mundo está falando de um determinado assunto e este está sendo veiculado nas mídias populares, torna-se muito comum copiar o que a maioria está fazendo.

Figura 1: Transferência do Dinheiro Esperto – Smart Money.

Para a grande massa, geralmente notícias negativas como o corona vírus (covid-19), tendem a refletir como pânico nos investimentos, por outro lado, para grandes instituições financeiras e investidores com planejamento financeiro estruturado de longo prazo, podem enxergar boas oportunidades econômicas após o fim de um determinado surto. Imagine que você trabalhe em uma companhia financeira e você recebeu a ordem de comprar uma quantidade muita grande de um determinado ativo. Certamente você irá se deparar com dois grandes problemas:

  • Liquidez: como a necessidade de compra que você recebeu foi muito grande, é comum se deparar com a dificuldade de adquirir uma quantidade alta de ativos a preços atrativos;
  • Distorção do preço: caso decida agredir o book de ofertaspara cumprir a ordem que você recebeu, você irá piorar o preço médio e também será detectado facilmente pelos robôs (algoritmos de alta e baixa frequência) e outros participantes que estão observando o mercado, fazendo os oportunistas adquirir os ativos antes de você, forçando-o comprar a um preço pior; ou a própria distorção fará com que os participantes de fora do mercado não se interessem mais no preço do ativo. Note que neste cenário, os participantes que estão observando o mercado ao detectar sua urgência, poderão se posicionar antes, aproveitando-se da sua necessidade e ao mesmo tempo obrigando-o a montar sua posição com preços cada vez mais caros. Para entender melhor este conceito, veremos a próxima imagem.

Figura 2: Acumulação ativo Profarma – PFRM3

Observe que o ativo PRFM3, ficou do dia 08/06/2018 a 29/11/2019 (16 meses ou 480 dias), variando praticamente 85% do seu tempo em uma amplitude de R$ 1,21 (R$ 4,99 – R$ 3,78), para depois atingir o patamar de R$ 7,71. Notem que desta maneira, uma grande instituição financeira que precisa comprar uma quantidade muito grande de ativos, ao adquirir de forma passiva, não piora seu preço médio, não distorce o preço e o problema de liquidez é sanado pelo fator tempo. Sabemos que o valor de um ativo é regulado pela lei de mercado oferta x demanda, neste exemplo aqui citado, o baixo interesse dos players em vender o ativo PRFM3 abaixo de R$ 3,78 (oferta), atrelada ao aumento da demanda fez o papel se valorizar 88% em um mês e meio, chegando a R$7,71. O processo inverso é chamado de distribuição, onde neste cenário há muita oferta no mercado e pouca demanda, fazendo os preços caírem.

Figura 3: Acumulação ativo Petrobras – PETR3

Podemos fazer o mesmo exercício em PETR3, note que o ativo ficou 74% do tempo durante 570 dias, ou 19 meses, oscilando em uma amplitude de R$ 4,49 (R$ 12,20 – R$ 7,71), para depois gerar a primeira onda de impulsão; logo após, é possível observar a onda de correção (onda 2), observe que o nível de resistência anterior (R$12,20 a R$13,20), tornou-se um novo suporte findando o término da onda corretiva para depois projetar a terceira onda de impulsão.

Neste cenário podemos verificar o nível de suporte e resistência, o processo de acumulação, a formação das ondas de Elliot, alinhadas com o padrão gráfico Bandeira de Alta, note como é possível reduzir o risco e aumentar seus ganhos ao realizar uma leitura técnica, caso você tenha interesse em aprender esses conceitos, te convido a conhecer nosso curso divido em 8 módulos, você pode ver os temas abordados em cada módulo acessando o link https://bolsasemsegredos.com.br/.

Agora que já aprendemos porque os preços se movem, podemos concluir que em momentos de pânico ou euforia, uma grande instituição poderia resolver 3 problemas de uma única só vez:

  • Alta liquidez: pessoas que precisam se desfazer urgente de seus papeis, pois não tiveram um planejamento eficaz, posicionando-se muitas vezes em ativos com preços distorcidos influenciados por terceiros ou populares;
  • Distorção do preço: Devido a alta liquidez gerada em um momento atípico de euforia ou pânico um grande player, pode adquirir uma quantidade grande de ativo sem distorcer seu preço médio;
  • Fator tempo: Estudos mostram que habitualmente os mercados ficam entre 70 a 80% do tempo em consolidação também conhecido como range, caixote, mercado lateral, podendo ser definido como acumulação ou distribuição, para depois ocorrer um movimento de alta ou baixa, como vimos anteriormente em PRFM3.

Para uma grande instituição a somatória de alguns fatores como alta liquidez, preços atrativos, oportunidade de grande aquisição sem piorar o preço médio, ocasionado pelo momento de alta volatilidade, pode ser vista como oportunidade em reduzir o tempo de montagem de posição e também o tempo de realizar o lucro. Vejamos alguns exemplos:

Figura 4: Ibovespa, Crise do Subprime nos Estados Unidos. Imagem extraída do site Investing.com.

Podemos observar que a crise no setor imobiliário americano culminando na quebra do banco Lehman Brothers, trouxe uma queda acentuada no índice Ibovespa. Note que o Ibovespa levou aproximadamente 393 dias para voltar nos mesmos níveis de preço sem precisar passar por um longo período de acumulação como vimos no ativo PRFM3, onde passou 480 dias acumulando (mercado lateral) em uma pequena amplitude de preço para depois fazer um movimento de alta.

Figura 5: Ibovespa, Delação JBS – Joesley Day.

No gráfico acima, após o Ibovespa entrar em circuit breaker, o índice brasileiro levou 122 dias para atingir o mesmo patamar de preço sem passar por um grande período de lateralização. Note a relação do tempo de recuperação com o grau de criticidade do evento, neste caso um escândalo político nacional, teve um menor tempo (122 dias) para atingir o mesmo patamar anterior em comparação com o período de normalização após recessão econômica da maior potência mundial, como visto anteriormente na crise do subprime (393 dias).

HISTÓRICO DO IBOVESPA NOS MOMENTOS DE CIRCUIT BREAKER

Ao observar os dados históricos do Ibovespa, índice que mede o desempenho médio das cotações dos ativos negociados na B3, nos momentos de crise em que o circuit breaker foi acionado, é possível observar que estes eventos marcam os topos e fundos nos gráficos de longo prazo.

“Caçar” o fundo do mercado e quebrar financeiramente é uma linha muito tênue. Podemos comparar como tentar pegar uma lâmina em queda livre no ar, ou, pular de um trem em alta velocidade. Observe no próximo gráfico, que o circuit breaker foi acionado cinco vezes em menos de um mês no ano de 2008 durante a crime imobiliária americana.

Figura 6: Queda Ibovespa na crise imobiliária nos Estados Unidos, delação JBS, crise do petróleo e Corona vírus – covid-19. Imagem extraída do Site Investing.com.

Foleo Dicas: Sempre priorize a proteção do seu capital, utilizando o Stop de Proteção, evitando-se assim, uma catástrofe financeira. Para montagem maior de posição, é recomendável adquirir aos poucos o ativo desejado, respeitando sempre o seu limite máximo de perda. Para auxiliar a encontrar esse valor, pergunte-se: – Quanto do meu capital estou disposto a perder sem afetar minha saúde mental – Quanto do meu patrimônio estou disposto a arriscar, sem afetar minha vida pessoal dentro de um período de 6 meses ou 1 ano?

Essas perguntas auxiliarão a proteger a maior parte do seu capital e sua saúde mental, fundamental para tomadas de decisões importantes.

Oportunidade a Longo Prazo

Tratando-se de finanças, cada pessoa possui objetivos diferentes, e tratando-se de objetivo financeiro, o prazo de investimento é um fator fundamental. Não há uma regra para definir o tempo de investimento de curto, médio e longo prazo, porém, o setor financeiro convencionou longo prazo um período mínimo de 5 anos. Sendo disso, ao analisar as crises passadas, onde gerou um cenário de incerteza acionando o circuit breaker como na crise Asiática (1997), crise Russa (1998) e crise do câmbio flutuante (1999), investidores com metas de longo prazo, viram seus ativos renderem muito mais que a poupança, considerada pelos economistas um investimento de renda fixa, seguro e conservador; isso pode ser paradoxal e evidenciado na comparação do rendimento Ibovespa x Poupança nas figuras 7 e 8.

Quem tinha investimentos no mercado de risco, durante as crises acima citadas, visando o longo prazo, tiveram a oportunidade de auferir um lucro médio de 243 a 336%, já quem investiu na poupança no mesmo período de turbulência, tiveram rendimentos entre 102 a 121%.

Figura 7: Queda Ibovespa na crise Asiática, crise Russa e câmbio flutuante. Imagem extraída do Site Investing.com.

Figura 8: Rendimento poupança durante período de crise mundial (Asiática, Russa e Câmbio Flutuante) – Calculadora do cidadão, bcb.gov.br.

A comparação acima dos rendimentos em momentos de instabilidade global reforça o tema citado anteriormente “PÂNICO OU OPORTUNIDADE?”, se você precisa do capital investido para o curto e médio prazo com a finalidade de cobrir despesas, fatidicamente nesta ótica é um cenário de pânico, já se tem um objetivo de longo prazo, nesta visão pode ser uma boa oportunidade.

COMO POSSO PROTEGER MEU CAPITAL NO MERCADO DE RENDA VARIÁVEL?

A humanidade sempre foi marcada por guerras, conflitos políticos, epidemias e pandemias como a peste negra, gripe espanhola, síndrome respiratória aguda grave (SARS), H1N1, etc. Tais eventos geram cenários de incertezas, paralisam a economia, podendo levar o aumento da taxa de juros, ignições para gerar um período de recessão econômica.

Stop de Proteção

A função principal do stop, é minimizar os prejuízos financeiros, dando-lhe tempo para avaliar as novas condições de mercado. Existem algumas variações do stop, como stop limit, e stop loss. O primeiro é basicamente uma ordem gatilho, quando o ativo chega a um determinado preço estipulado por você, a plataforma de negociação irá emitir uma ordem e será executada somente quando o ativo chegar no nível de stop loss também definida por você. Neste artigo comentarei as duas principais formas de stop que você poderá escolher conforme o seu perfil de investidor e sua estratégia operacional.

Stop técnico: O stop técnico é baseado nos fundamentos da análise técnica; ao identificar certos padrões como, suporte e resistência, linha de tendência de alta (LTA), linha de tendência de baixa (LTB), pivô de alta ou pivô de baixa, canais, etc, conceitos que abordamos em nosso curso e que você pode utilizá-los para posicionar o stop de proteção. Para exemplificar, vejamos a ilustração a seguir:

Figura 9: Identificação Suporte em PETR3 e Marubozu de alta no gráfico semanal.

Observe que o preço toca a mesma região de valor por 5 vezes, sendo possível definir esse nível de preço como suporte, supondo que após você observar o rompimento falso, depois dos 5 toques, e ver o preço voltar acima do suporte formando o padrão de vela Marubozu de alta, você decida comprar, neste caso você poderia colocar o seu stop de proteção abaixo da linha de suporte, ou, se tiver o perfil mais agressivo abaixo no nível de armadilha configurado pelo rompimento falso. Aprender esses conceitos torna-se possível minimizar os “violinos”, reduzindo-se também os prejuízos. Caso queira aprender os padrões de candlestick fiz especialmente para você um e-book totalmente gratuito, basta acessar o link https://materiais.foleo.com.br/candlestick-o-guia-essencial, os padrões de velas combinado com a análise técnica pode melhorar muito seu timing de entrada em uma operação.

Observe que o limite de perda por operação também definirá a quantidade de ações.

Para obter a quantidade de ações, basta dividir o valor de perda por operação, neste caso R$ 600,00, pelo preço do ativo.

Alexander Elder também sugere que ao atingir 6% do capital destinado ao mercado de risco, você deverá parar de operar durante o restante do mês, neste exemplo R$1.800,00. Isso evitará que você continue operando em uma má fase aumentando o prejuízo; ficando de fora também nos possíveis ciclos de drawdown.

Stop Financeiro: O stop financeiro é baseado no quanto o investidor está disposto a perder em cada operação. Conforme Alexander Elder, professor e especialista de mercado, sugere que após o investidor definir o montante que irá aplicar em renda variável, utilizar o limite de 2% de perda em relação ao montante destinado para aplicações no mercado de risco, há especialistas que recomendam 1% e também há quem aconselha valores pouco acima de 2%, essa decisão é estritamente particular e envolve diversas peculiaridades que formam o perfil do investidor, também atrelada diretamente com o mindset de cada um. Para exemplificar o uso do stop financeiro, imagine que você tenha R$150.000 disponível e decida aplicar 20% em renda variável, o que dá um total de R$30.000, caso você decida utilizar a recomendação dos 2% como limite máximo de perda, concluiremos que R$ 600,00 (R$30.000 x 2% / 100%) será o limite de perda por operação.

Foleo Dicas: Concentre na qualidade e não na quantidade de operações, isso o tornará melhor operador. No mercado de renda variável a ideia é pensar em sobreviver o maior tempo possível, logo, montar operações grandes demais ou operar excessivamente, aumenta muito as chances de quebrar financeiramente.

Os iniciantes têm pressa de ganhar dinheiro, enquanto os operadores profissionais começam medindo o risco da operação. O que seria melhor? Ganhar R$100.000 em uma única operação em um único dia, ou, ganhar R$100.000 em diversas operações durante um ano? Caso você optou por ganhar R$100.000 em uma única operação, repense na sua estratégia, pois ao ganhar um grande montante de uma única só vez, o encorajará a repetir o feito, e basta somente um dia ou poucos minutos para você devolver todo valor conquistado. Ganhar R$100.000 em diversas operações durante um longo período, significa que você também ganhou tempo de tela (experiência), você observou os melhores padrões, gerando as melhores oportunidades na relação risco x retorno, você corrigiu falhas no seu trade system, você passou por diversos cenários diferentes sabendo se comportar melhor em cada um deles, ou seja, você adquiriu conhecimento e isso tem um valor inestimável!

Dê peixe a um homem e você matará sua fome durante um dia, ensine um homem a pescar e você matará sua fome para sempre” – Ditado chinês.

Ganhar é somente a consequência do seu aprendizado e conhecimento, conseguir um bom dinheiro sem adquirir experiência, certamente não sobreviverá por muito tempo no mercado, da mesma forma que é preferível aprender a pescar, pois desta forma você pode matar sua fome todos os dias, ao invés de ganhar uma boa porção de peixes.

Hedge – Cobertura

O objetivo principal do hedge é proteger operações financeiras contra grandes oscilações. Ele é capaz de minimizar ou até mesmo eliminar o risco contra variações de preços indesejados. O hedge é utilizado como uma forma de fixar o preço de um determinado ativo, taxa de câmbio, taxa de juros, passivo ou commodity, por exemplo.

Imagine que você possua uma grande frota de veículos atuando no setor logístico; você deseja fixar o preço do petróleo para o abastecimento da sua frota para assim garantir maior estabilidade nos custos operacionais da sua empresa, pois acredita que em um futuro próximo poderá ocorrer um súbito aumento no preço do combustível, prejudicando a margem de lucro da sua companhia. Para proteger sua empresa contra uma possível oscilação, você decide comprar o contrato futuro do petróleo a um preço fixo que seja viável para manter sua frota circulando a um preço competitivo. Independente se o preço do petróleo suba no futuro, note que você estará protegido contra uma forte oscilação.

O seguro automotivo é um exemplo clássico de hedge, você está protegendo um passivo, ou ativo, caso você utilize esse automóvel como fonte de renda, caso no futuro ocorra um acidente, roubo, pane mecânica, elétrica, etc. O seguro automotivo é um contrato que lhe garante o direito de proteger seu carro contra diversos fatores, podendo até mesmo receber a preço de mercado o valor integral do carro em caso de perda total, dependendo do tipo de seguro contratado. Digamos que não aconteça nada com seu veículo até o vencimento da sua apólice, você não irá receber nada, mas estava protegido contra um desastre atípico e imprevisível.

Agora que você aprendeu o conceito de hedge, como aplicar nas operações financeiras? De maneira simples e objetiva você precisa adquirir um ou mais produtos financeiros que possua boa liquidez e possua relação inversa com a sua carteira de investimentos. Vamos detalhar essas duas características para se fazer um bom hedge.

Boa Liquidez: Quem não se lembra da importância na aquisição de terreno e imóvel nos tempos de nossos avós? Porém, em momento de crise seria possível vender de maneira rápida seus terrenos e imóveis, caso-o tivesse? Sabemos que a venda de um imóvel pode levar meses e até mesmo anos, isso significa que é um ativo com baixa liquidez, a liquidez de um imóvel também está relacionada a localização; se o entorno possui boa infraestrutura, não alaga e o bairro é seguro, tal imóvel pode ser mais requisitado em comparação a outro de mesmo valor em regiões com baixa infraestrutura e com maior criminalidade, mas convenhamos, se desfazer de um imóvel da noite para o dia não é tão simples assim.

A liquidez de um ativo está diretamente relacionada a relevância que as pessoas dão para um determinado objeto. Logo, podemos concluir que objetos e produtos mundialmente conhecidos, de alta relevância, são aqueles que possuem melhor liquidez em momentos de pânico e crises. O ouro é um clássico exemplo, praticamente em qualquer país que você vá, caso você tenha reserva de ouro, conseguirá utiliza-lo como moeda de troca. O dólar americano, por ser uma moeda forte e balizadora de diversas outras economias, também é considerado um ativo de alta liquidez, uma vez que, antes da economia americana quebrar, muitas outras economias mundiais já estariam falidas, e também por ser um papel aceito mundialmente.

Para fixar melhor o conceito de liquidez, pense na seguinte pergunta: Você prefere ganhar um pote de ouro valendo R$500.000 ou um container de celular no valor de R$1.000.000? Neste caso, depende seria a melhor resposta. Se estivesse no início do século XX, fatidicamente valeria a pena o container de celular no valor de R$1.000.000. Agora e se fosse no início do século XVIII? Você preferiria ficar com a carga de celular ou o pote de ouro? Em tempos onde não se havia o conhecimento sobre frequência modulada, o conceito de emissor e receptor e rádio frequência, o celular seria um produto obsoleto e sem utilidade.

A Inglaterra passou por um grande problema de liquidez na metade do século XVIII. Os ingleses importavam massivamente seda, porcelana e chá da China, e ao notarem que a balança comercial entre o Império Britânico e Império Chinês estava negativa, os britânicos tentaram convencer o império chinês a comprar produtos ingleses para equilibrar a balança comercial, porém, uma cultura baseada no Confucionismo e com fortes raízes no Taoísmo, não via valor nos produtos ingleses. Para os chineses os ternos, relógios e talheres refinados dos britânicos não fazia parte da sua cultura e sendo assim, os consideravam itens desnecessários e sem valor, ou seja, os produtos ingleses não encontraram a liquidez necessária na cultura chinesa, para equilibrar a balança comercial entre os dois impérios. De fato, tanto a Inglaterra quanto outros países tiveram grande interesse comercial no leste asiático, por ali estarem concentrados as maiores populações mundiais representados pela Índia e China.

Para não sair no prejuízo, o império britânico começou a exportar ópio ilegalmente, uma substância entorpecente altamente viciante, produzido na Índia (colônia britânica) para a China, equilibrando-se assim as contas. Esse evento ficou conhecido como a Guerra do Ópio, e talvez poderíamos arriscar a dizer que o Reino Unido foi o pioneiro no narcotráfico. Tudo isso gerado por interesses políticos e falta de liquidez dos produtos britânicos na cultura asiática. Não é a toa que Gandhi, usava somente um pano branco para cobrir seu frágil corpo como forma de protesto contra a colonização britânica, incentivando a população indiana a não aderir o uso do terno, característica da moda inglesa.

Abaixo podemos notar claramente como as pessoas buscam ativos de alta liquidez em momentos de crise ao observar a valorização do ouro futuro durante a crise do subprime.

Figura 10: Valorização do Ouro Futuro na crise imobiliária americana – Crise do Subprime. Extraído do site Investing.com.

Ativos com relações inversas: Isso quer dizer que enquanto um cai o outro sobe. A maneira mais simples de fazer isso é adquirir opção no mercado futuro. Imagine que um investidor comprou a R$15,00 papéis da PETR4, para proteger a operação, esse investidor adquiriu a R$0,05 opções de vendas com uma cobertura (vencimento) de dois meses. Cinco semas após adquirir as ações e opções, uma notícia no oriente médio faz despencar o preço do petróleo fazendo com que as ações da PETR4 caiam para R$7,50, no mesmo instante da queda, as opções que custavam cinco centavos, agora estão valendo R$1,00. Ao fazer o balanço, o investidor percebe que não perdeu R$7,50 por ação, pois, enquanto seu ativo perdeu 50% do valor em relação ao preço de aquisição, as opções se valorizaram em 2000%. Devido o alto poder de alavancagem nos mercados futuros, as opções são ótimas ferramentas para minimizar ou eliminar prejuízos financeiros em momento de alta volatilidade. É como se a notícia que gerou a turbulência no mercado financeiro fosse equivalente ao sinistro do seguro automotivo. Caso durante os 60 dias, não houvesse nenhuma oscilação brusca derrubando o preço do papel adquirido, o investidor perderia cinco centavos por opção adquirida, assim, com um pequeno montante, foi possível montar uma cobertura (hedge), caso houvesse uma calamidade desvalorizando o ativo durante o período equivalente a 2 meses.

Embora possa parecer simples, é fundamental que a estratégia seja cuidadosamente pensada, note que a proporção entre a compra das ações com a quantidade de opções adquirida, fará você ter o melhor equilíbrio caso ocorra ou não, um “sinistro” no mercado financeiro. Caso invista boa parte do seu capital nesse tipo de proteção, seria equivalente em ter uma apólice de seguro valendo mais que o carro, não fazendo o menor sentido.

Da mesma forma que não vale a pena pagar a franquia para acionar o seguro em pequenas avarias, pois geralmente pequenos reparos realizados em uma oficina custam menos em relação ao preço da franquia, a opção permite ao investidor o poder de escolha em exercer ou não, o prêmio no dia do vencimento da opção.

Citamos acima o exemplo de hedge no mercado à vista (ações) utilizando as opções do mercado futuro como proteção, o hedge pode ser utilizado em diversos tipos de mercados, por exemplo, um produtor de milho tem a informação que possivelmente haverá um aumento da safra, sabendo que a alta disponibilidade do milho no mercado irá deflacionar o valor do seu produto, ou seja, isso significa que o preço da saca do milho poderá ficar abaixo do custo de produção que ele investiu para produzir o milho; fazendo-o amargar um grande prejuízo financeiro. Considerando que o produtor tenha o interesse de manter o preço da saca acima de R$60,00, ele adquire contratos futuros de venda do milho a R$60,00 para daqui a cinco meses. No dia do vencimento do contrato, poderá acontecer:

  • Desvalorização: Supondo que o preço da saca esteja valendo R$40,00, o produtor decide exercer o seu direito, para assim vender a R$60,00 no mercado à vista, protegendo-se da queda de R$20,00 por saca.
  • Valorização: Houve um grande aumento na demanda mundial e agora a cotação do milho subiu para R$80,00; o produtor decide não exercer o seu direito de venda a R$60,00, optando-se assim, em perder o valor pago na aquisição dos contratos futuros, para vender seu produto no mercado à vista a R$80,00 a saca, desta forma, o produtor consegue recuperar o valor gasto nas aquisições dos contratos.

Para finalizar o tema, ativos com relações inversas, observe na próxima imagem a relação entre o nosso índice Ibovespa com a moeda americana dólar. Geralmente em condições normais de mercado o índice que mede a valorização das ações brasileiras tem relação inversa com a moeda américa, pelo simples fato dos investidores estrangeiros venderem dólar gerando a queda da moeda americana perante ao real brasileiro, para investir nas empresas brasileiras em condições atrativas como: juros baixos, políticas internas robustas e baixo grau de risco, por exemplo. Em cenário oposto, alto grau de risco, incertezas políticas e econômicas, taxas de juros poucos atrativas, os estrangeiros tendem a retirar seus investimentos do nosso país, vendendo seus ativos e convertendo novamente em dólar, esse movimento gera a queda do Ibovespa e a valorização da moeda americana.

Figura 11: Relação inversa entre Ibovespa e moeda dólar, 27/12/2017 a 26/11/2018.

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